segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Morcegos em casa. E agora?

O Verão é uma época em que é frequente encontrarmos morcegos dentro de casa. Assim sendo damos algumas explicações e indicações para ajudar a resolver este tipo de situações.

Primeiramente é importante salientar que há várias espécies de morcegos que se abrigam em nossa casa, maioritariamente no exterior (telhados, fissuras e buracos das paredes)  ou geralmente em divisões pouco (ou nunca) usadas (sótãos e caves). Não é um hábito destes animais entrar para caçar ou abrigar-se em divisões que sejam constantemente a ser usadas pelo homem, um vez que se sentem expostos nessas situações.

Quando um morcego entra numa divisão diariamente ocupada de uma casa habitada, fá-lo por acidente, ou porque foi em perseguição de insetos atraídos pela luz, ou porque se abrigou numa estrutura com acesso ao exterior (caixilho da janela, ou chaminé) e quando tentou sair para a rua fê-lo no sentido errado, ou por distração e falta de experiência que será a causa mais comum nesta época.
Este último caso acontece frequentemente quando os juvenis estão a sair do abrigo e a aprender a voar, essencialmente entre Julho Setembro/Outubro. Como os indivíduos novos não têm muita experiência e resistência, andam um pouco “às aranhas” e acabem por entrar por uma janela ou porta aberta e como não dão com a saída, ficam a voar dentro da divisão, ou pousam em algum lugar (incluindo o chão).

Quando isso acontece a melhor coisa a fazer é fechar as portas para as outras divisões para impedir que eles se percam dentro de casa, abrir as janelas, apagar a luz e deixar o morcego sozinho para ele não ter medo e poder sair do local onde está e ir par ao exterior. Passados alguns minutos é só verificar se ele ainda está dentro da divisão, e se estiver, repetir o processo. Isto poderá ir de alguns minutos a várias horas, mas geralmente não demora mais do que alguns minutos.

No caso de mesmo assim ele não sair, porque poderá estar ferido ou doente é importante antes de mais, lembrar que para capturar e manusear morcegos é necessário uma autorização específica do ICNF, pelo que o mais correto é ligar para o ICNF ou SEPNA (GNR). Se for necessário pegar-lhe ou manuseá-lo, deve ser usada uma luva de couro ou borracha e para o libertar deve ser colocado no exterior, num sítio alto (tronco de árvore ou muro).

Uma nota muito importante, nunca pegar num morcego que esteja pousado no chão ou num sítio acessível e exposto. Um dos sintomas da Raiva é desorientação, e esse morcego pode estar contaminado, razão pela qual está parado num local tão desabrigado.

Outra das situações com que já me deparei, é o morcego ir abrigar-se numa divisão ocupada para passar o dia (dormir). Isto pode acontecer porque algumas espécies não passam os dias no mesmo abrigo todas as noites, e como é costume de verão termos as janelas de casa abertas durante a noite, os morcegos que vão a passar, acham que a nossa casa dará um bom abrigo de emergência, embora eles consigam perceber que a casa está ocupada por humanos (pelo odor por exemplo), nesse caso é proceder do mesmo modo devem fechar-se todas as janelas e portas dessa divisão (deixando o morcego sossegado), que deverão ser abertas ao início da noite, altura em que ele procura sair para a rua.


Se detetarem um abrigo de alguma colónia de morcegos em vossa casa e se quiserem ‘livrar’ dele, não os matem. Todas as espécies de morcegos são protegidas por lei, pelo que o melhor é contactar o ICNF ou o SEPNA para resolver a situação da melhor maneira possível. A Natureza agradece e nós também pois os morcegos prestam-nos um grande serviço ambiental.

As espécies que mais frequentemente entram nas casas pertencem aos géneros Pipistrellus sp. e Rhinolophus sp.


Morcego de Kuhl (Pipistrellus kuhlii)




Morcego-de-ferradura-pequeno (Rhinolophus hipposiderus)

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Chamamentos sociais dos pipistrellus

Os morcegos, além de emitirem constantemente sons de ecolocalização, também produzem outros tipos de sons, entre os quais sons de caça designados de “feeding buzz” e sons de socialização designados de “social calls”.
Os chamamentos sociais são sons complexos, que normalmente são emitidos dentro dos abrigos durante o dia, contudo, também podem ser emitidos em voo durante a noite em área de alimentação ou passagem ou quando estão a repousar. A finalidade destes chamamentos é muito diversa e a ainda não esta totalmente compreendida, mas podem representar comunicação entre jovens e adultos, cortejamento, marcação de território ou simplesmente vocalizações agnósticas.
Tendo em conta a especificidade das vocalizações das diferentes espécies de pipistrellus que ocorrem no nosso território (P. kuhlii, P. pipistrellus e P. pygmaeus) a sua identificação pode ser condicionada pela sobreposição de frequências de emissão.
Limites mínimos e máximos da frequência máxima de emergia (FMaxE)  dos pulsos de navegação dos 3 pipistrellus.

A presença de chamamentos pode ajudar na identificação das espécies com mais segurança. Assim se tivermos um chamamento constituído por dois a cinco pulsos com FMaxE entre 14 e 17kHz e uma frequência final inferior a 13kHz, estaremos muito provavelmente na presença de um Pipistrellus kuhlii.

A confirmação de Pipistrellus pipistrellus poderá ser muito provável pela identificação de chamamentos sociais constituídos por dois a cinco pulsos com FMaxE entre 17 e 20kHz e uma frequência inicial situada entre 24 e 34kHz.


Já no caso do Pipistrellus pygmaeus, a presença de chamamentos sociais constituídos por dois a cinco pulsos com FMaxE entre 19 e 22kHz e uma Frequência inicial superior a 34kHz, poderá confirmar a sua identificação com alguma segurança.
È claro que, como em tudo na natureza, nada é exato e há sempre aqueles decidem fazer coisas fora do normal e estranhas só para nos chatearem…

sábado, 1 de agosto de 2015

Branco & preto com pinceladas de vermelho



A Cegonha-preta (Ciconia nigra) é uma ave Ciconiiforme da família das cegonhas com uma envergadura de 170-205 cm. De fácil identificação, os adultos têm todas as partes superiores, cabeça e pescoço preto, com reflexos esverdeados, as partes inferiores são brancas e as suas patas e bico vermelhos. É uma espécie monotípica que se distribui mundialmente por três grandes núcleos, Europa, Asia e África Austral, sendo que as aves que nidificam na Europa hibernam na África subsariana e Médio Oriente. Em Portugal, existem cerca de 100 casais, um número bastante reduzido de indivíduos. A espécie tem o estatuto de Vulnerável e não Criticamente em Perigo (Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal), por se admitir a possibilidade de imigração de regiões vizinhas.


Na época de reprodução esta espécie está muito associada a zonas arborizadas de sobro e azinho (predominantemente no centro e sul) e cursos de água com afloramentos rochosos (predominantemente no norte) com zonas propícias para a sua alimentação (área húmidas e/ou zonas calmas de ria com pouca profundidade), onde se alimenta preferencialmente de peixes, assim como de anfíbios, micromamíferos, répteis e crustáceos ou mesmo crias de aves que captura em ninhos.


Os seus ninhos são formados por grandes estruturas de ramos, reforçados com lama e ervas que são revestidos interiormente com musgos e ervas, que normalmente são utilizados em anos consecutivos, situados em afloramentos rochosos ou em árvores. As fêmeas podem por entre 2-6 ovos que são incubados durante 35-36 dias pelos dois progenitores, após nascerem e durante os 10-15 primeiros dias um dos progenitores permanece constantemente no ninho com a s jovens crias e ao fim de mais ou menos 70 dias tornam-se jovens voadores.


As suas principais ameaças são a degradação do seu habitat de nidificação provocado pela pressão urbanística, construção de infraestruturas (vias de comunicação, barragens, etc…), assim como a contaminação das águas, pressão piscatória, escalada, a própria observação de aves, atividade florestais, navegação fluvial e linhas elétricas.

P.S. Desculpem a qualidade das imagens, mas foram feitas a 120 m de distância.